Anos-luz // Cláudia Semedo

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Catarina Alves de Oliveira

No Universo, as distâncias entre os corpos celestes são demasiado extensas para as escalas com que medimos as distâncias na Terra. Mesmo dentro do nosso Sistema Solar, as unidades de medida que usamos habitualmente, como o metro ou o quilómetro, tornam-se desadequadas. Vénus, o planeta do Sistema Solar mais próximo da Terra, que vemos frequentemente no céu nocturno, encontra-se aproximadamente a trinta e oito milhões de quilómetros na sua posição mais perto da Terra,  38 000 000 quilómetros. A estrela mais próxima do Sol, Próxima Centauri, encontra-se a quarenta e um biliões de quilómetros – 41 000 000 000 000 quilómetros! São muitos algarismos para utilizar num artigo, quanto mais em cálculos no dia a dia de um astrónomo. Esta foi a principal razão pela qual se começaram a utilizar outras unidades de medida da distância em astronomia, sendo uma delas o ano-luz. Apesar deste termo composto conter a palavra ano, que usamos normalmente como medida de tempo, o ano-luz é uma unidade de medida de distâncias. Um ano-luz corresponde à distância percorrida pela luz através do vácuo  durante um ano juliano.

Em qualquer ciência experimental, é necessário que todos os cientistas utilizem um mesmo sistema de medidas para que possam discutir e comparar resultados entre si de uma forma simples e correcta. Na maior parte do mundo, os cientistas utilizam o Sistema Internacional de Medidas, que define de uma forma precisa quantidades como o metro, o quilo, o segundo, entre outras. Em astronomia, a tarefa de definir e avaliar as unidades de medida é levada a cabo pela União Astronómica Internacional (IAU, na sigla inglesa). Na prática, este processo é bastante complexo. Por exemplo, para definir a que distância corresponde exactamente um ano-luz, é preciso saber a velocidade a que se move a luz através do vácuo e, em termos de astronomia, que duração tem um ano juliano. Em física, a velocidade a que a luz viaja no vácuo é uma constante, 299 792 458 metros por segundo. A IAU define um ano juliano como tendo 365,25 dias, isto é, aproximadamente 31 milhões de segundos.  Assim, para tentar imaginar a que corresponde um ano-luz em medidas a que estamos mais acostumados, temos de pensar em 9 460 730 472 580,8 quilómetros, nove biliões de quilómetros! Se quisermos fazer o exercício contrário, constatamos por exemplo que a Torre Eiffel não mede mais do que uns curtos 0,000 000 000 000 035 anos-luz.

Outra forma de conceber este conceito de ano-luz é pensar que a luz emitida por um objecto que esteja a nove biliões de quilómetros de distância demora um ano a chegar até nós, o que de certa forma significa que recebemos uma mensagem do passado. Até mesmo a luz do Sol demora um pouco mais de oito minutos a chegar à Terra. A cada instante que olhamos para o Sol estamos a observá-lo tal como era há oito minutos atrás. O planeta extrasolar descoberto mais próximo da Terra encontra-se a uma distância de aproximadamente 10,5 anos-luz. A nossa Galáxia tem um diâmetro de aproximadamente 100 000 anos-luz e Andrómeda, a galáxia espiral mais próxima da nossa, está a uma distância de 2,5 milhões de anos-luz da Terra.

Podemos dizer que estudar outros locais da nossa Galáxia ou outras galáxias no Universo é como viajar no tempo. Algumas das galáxias mais longínquas foram recentemente encontradas a uma distância de 13,2 mil milhões de anos-luz de nós. A idade do Universo é estimada como 13,7 mil milhões de anos, e a luz destas galáxias foi emitida quando o Universo era ainda muito jovem, o que permite aos astrónomos estudarem as fases primordiais do nosso Universo. Isto significa que quanto mais longe conseguirmos observar, mais informação teremos acerca do passado.

Os astrónomos utilizam vários métodos para medir as distâncias no Universo, dependendo de quão longe estão da Terra os objectos que pretendem estudar. Dentro do nosso Sistema Solar, as distâncias entre os planetas e a Terra são determinadas com precisão através de satélites enviados pelo Homem. Aplicando a definição de ano-luz, quando um sinal é enviado pelo satélite para a Terra, sendo a velocidade da luz constante, ao medir o tempo que este sinal demora a chegar ficamos a saber qual foi a distância por ele percorrida. Para medir a distância até outras estrelas próximas onde já não é possível enviar satélites, os astrónomos recorrem a relações matemáticas, nomeadamente a paralaxe. Usando este método, a distância é calculada através da diferença entre a posição aparente das estrelas mais próximas em relação às estrelas de fundo, em dois pontos extremos da órbita da Terra em torno do Sol, tirando partido desta configuração triangular. Este método está limitado a distâncias até cerca de 100 anos-luz. Para medir mais longe, como à escala da nossa Galáxia e de outras galáxias próximas, ou mesmo de galáxias a mil milhões de anos-luz de distância, os astrónomos recorrem a propriedades específicas de alguns corpos celestes, como a periodicidade das estrelas Cefeidas, o brilho de certas Supernovas, ou a velocidade a que se movem as galáxias distantes, produzindo desta forma um mapa mais detalhado do Universo que nos rodeia.

A astronomia é uma ciência que sempre inspirou artistas de vários géneros e alguma da terminologia mais especializada utilizada pelos astrónomos na sua investigação acaba muitas vezes por fazer parte do dia-a-dia de todos. A expressão ano-luz é um exemplo disso. Como o famoso personagem Buzz LightYear (Buzz Ano-Luz), o amigo de Andy no filme de animação Toy Story. Ou músicas de bandas famosas, como “Dez anos-luz de distância” (10 light-years away) da conhecida banda alemã Scorpions, e “A 2000 anos-luz de casa” (2000 light-years from home) dos Rolling Stones.



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